Nesse universo da música, história e arte reagem como química e o resultado pode ser extraordinário. Foi no início da década de 70, ainda sob o olhar da censura, que surgiu o álbum em vinil que superou todas as expectativas artísticas, tanto da crítica como de um público mais observador. Acabou Chorare, dos Novos Baianos, um Long Play de 1972, da Som Livre, chegou mostrando sua potência e se tornou um ícone na história da produção musical brasileira.
Aqui estamos, duas jornalistas, nascidas no mesmo ano – de 72, pra falar desse LP que é um fruto doce e suculento da nossa cultura, e do impacto e da representatividade dessa obra também no decorrer das décadas.
Quem são os Novos Baianos? Morais Moreira, Baby Consuelo e Paulinho Boca de Cantor são os intérpretes que deram voz às canções que se imortalizaram, como Brasil Pandeiro, Preta Pretinha, O Mistério do Planeta, A Menina Dança e a música tema – Acabou Chorare. Entre os músicos, estão o grupo A Cor do Som e o guitarrista Pepeu Gomes.
E não foi à toa, que a Revista Rolling Stones elegeu o álbum Acabou Chorare o maior disco de MPB de todos os tempos! O curioso é que o LP Tropicália Panis et Circenses, que os inspirou, ficou em segundo lugar nesta eleição. Eram os novos bahianos, legado do caldo cultural de Caetano e de Gil. Acabou Chorare, acrescentou mais musicalidade e poesia ao caldo brasileiro!
No quesito fotografia, o encarte é completo: uma ilustração, com a legenda “Só Somente Só”, tenta juntar as canções em uma cena: a figura que chora, seguida do relógio, um planeta, um rosto feminino e símbolos místicos como o livro e a vela, entregues por um aparente mago, que sai de um quadro.
Este disco tem uma identidade muito brasileira. É MPB na veia, leia-se, samba, baião, choro, bossa nova, rock and roll, tudo junto e misturado! É muita criatividade reunida em um só disco, letras leves, cheias de poesia… E tem instrumento musical para caramba aí, uns até inventados.
As fotos dos artistas, sem nenhuma produção, com vestes hippies, revelam a espontaneidade do movimento. A ideia de comunidade está muito bem retratada em duas fotos de página inteira: uma, onde adultos e crianças, de diferentes etnias, tocam e cantam alegremente sob a sombra de uma árvore, e um céu intensamente azul. É a ideia do paraíso. E a capa do álbum – uma mesa de cozinha improvisada e após o uso, com utensílios comuns e muitas canecas, coloridas, todas diferentes. Tudo muito simples e variado, sugerindo que muitos comeram ali. As imagens falam de união, comunhão, diversidade, simplicidade, música, arte, gente reunida, feliz e alimentada. É onde a tristeza acaba.
Acabou Chorare é um marco por sua ousadia em misturar ainda mais os ritmos que os seus antecessores tropicalistas. A Tropicália abriu caminho para misturar o samba com o rock! Moraes Moreira, Pepeu Gomes e companhia vieram mais soltinhos e à vontade, para mostrar uma sonoridade única e, ao mesmo tempo, diversa. É Brasil!
Adriana Porfírio Ribeiro e Adriana Luiza Barbosa Borges
são jornalistas e nasceram no mesmo ano de 1972. Adriana Porfírio também é publicitária. E Adriana Luiza também é especialista em História da Cultura e da Arte.
@adri.porfirio @dricaborgesa