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Planeta fome

O trigésimo quarto disco de Elza Soares é um resgate das suas origens e uma confirmação da sua luta contra a miséria, contra as injustiças e os preconceitos e contra a violência de um Brasil imenso e imerso em tensões, sofrimentos e desigualdades.

É um disco político, um disco social, Com lançamento em setembro de 2019, o título e a capa remetem ao ano de 1953. Naquele ano, Elza Soares inscreveu-se no programa de Ary Barroso, da Rádio Tupy, porque precisava de dinheiro. Sua família passava fome, seus filhos morriam de fome!

Ao se apresentar, com roupas extremamente humildes, provocou risos na plateia. Ary Barroso, debochado, lhe perguntou: “De que planeta você vem, minha filha?”. Elza respondeu com a força de quem não tem medo das adversidades: “Do mesmo planeta que o senhor, seu Ary… do planeta fome”. A capa traz a ilustração competente e genial de Laerte, cartunista que sempre impôs resistência às injustiças e à intolerância em suas obras, teve trabalhos publicados em periódicos como o Pasquim e a Folha de S. Paulo.

Criou personagens icônicos, como os Piratas do Tietê. Na capa do álbum Planeta Fome, Laerte resgata a história de Elza Soares, por meio de um emaranhado sistematicamente caótico, e traduz em suas linhas caricaturais e contundentes, as raízes de Elza, o cenário em que Elza se criou, um cenário de violência diversa, que violentava a diversidade, que violentava as diferenças.

Numa perspectiva surrealista e fragmentada, a ilustração da cartunista brasileira traduz um planeta poluído pela miséria, pela opressão, pelo sofrimento, pela dor e pela morte.

O planeta de Elza se materializa num subúrbio carioca, metonímia do mundo em que nasceu e se criou.

O trem do subúrbio está ali, a vida de Elza está ali. A mãe dela era lavadeira; o pai, operário. Elza foi faxineira e empacotadora. Casou-se com Garrincha e envolveu-se com o futebol. Viu a morte dos filhos – a morte está na capa; recebeu a visita de São Jorge, aos cinco anos de idade. Nasceu e se criou no subúrbio, enfrentou a pobreza e o racismo.

Mas o canto de Elza também se materializa, sublime, divinal, é a força que nasce da dor e persevera, e encanta. O encantamento de Elza também está na capa.

Rogério Tadeu Curtt

é professor de Língua Portuguesa, Redação e Literatura. Além dessas disciplinas, trabalha a história da música brasileira em sala de aula há 20 anos.  Adora a música brasileira. 

@curtt.lp

Elza Soares - Planeta fome

É o 34º álbum de estúdio da cantora Elza Soares com músicas inéditas e regravações, incluindo uma composição própria e capa da cartunista Laerte Coutinho. O disco possui 12 faixas e 42min10s de duração.

Lançamento2019ArtistasElza Soares com participações de BaianaSystem, Orkestra Rumpilezz, Virgínia Rodrigues, BNegão, Pedro Loureiro e Rafael MikeGravadoraDeckdiscGravaçãoEstúdio Tambor, no Rio de Janeiro com produção de Rafael RamosGênerosMPB, samba, rock alternativoCompartilhar
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