Nos Dias de Hoje, de Ivan Lins, é daqueles discos que eu o tenho como parte do meu coração de estudante universitário. Foi lançado em 1978, um ano depois de Somos Todos Iguais Nesta Noite e um ano antes do LP, A Noite. Nesse período aí, eu estava me formando em AU. São três discos militantes do cantor e compositor carioca Ivan Lins com parceria integral com o letrista, Vitor Martins, interiorano de Ituverava/SP. 

Nos Dias de Hoje é o primeiro verso da letra da canção Cartomante, gravada, primeiramente, em 1977, por Elis Regina e que também é uma das faixas do disco, em destaque.

Tem outras faixas no disco que, também, são cantadas e contadas com força e com vontade contra aquele período ditatorial: “Cantoria”; “Temporal”; “Quaresma”; e a última faixa do LP é “Aos Nossos Filhos” que lembra uma poesia de Brecht, “Aos que vão nascer”, da década de 30 do século passado. Novamente, Elis. Em 1980, no disco Saudades do Brasil, ela fez uma versão arrepiante

O meu passado eternamente interiorano de Guariba/SP volta com tudo, em minha memória, quando eu escuto a faixa 2 do lado A, Guarde Nos Olhos. Vitor Martins trouxe para o repertório de Ivan Lins, temas da cultura popular trabalhados maravilhosamente pelas composições do pianista carioca. Duas dessas canções estão neste disco: Bandeira do Divino e Forró do Largo.

Por fim, há o design gráfico das capas e o miolo interno. Mello Menezes, responsável pelas artes dos 3 discos do Ivan citados; nesse, pediu licença para as cores para no LP, Nos Dias de Hoje, trabalhar, monocromática/e, em branco e preto. Na capa, uma fotografia do rosto do artista, sem camisa, com um cordão pendurado no pescoço e uma data com o ano de 1978. Na contracapa, o rosto em perfil. No miolo, junto das letras e ficha técnica, aparece, em tamanho menor, a do parceiro, Vitor Martins e as do Ivan. Era assim que os estudantes, intelectuais, artistas, militantes de esquerda, jornalistas, quando pegos pela Polícia eram fotografados no DOI-CODI, órgão de repressão do governo durante a ditadura militar.