1973 foi um ano bem difícil dentro dos anos difíceis da ditadura militar para a cultura artística. Todavia, foi um ano forte em lançamentos de discos e shows. Foi nesse ano que a legal e fatal, Gal Costa, lançou o disco Índia. No começo daquele ano, a cantora deslumbrou o Rio de Janeiro com o seu novo show que foi base e movimento para o disco, aqui, relembrado.
O disco Índia foi o primeiro trabalho de estúdio após a carreira incrível do show que virou disco ao vivo, o icônico Gal FA – TAL – !.
As duas primeiras canções do lado A do disco Índia são, respectivamente, duas versões. A faixa-título, antigo sucesso da dupla caipira Cascatinha e Inhana; e Milho Verde, do folclore português. Essas canções foram apresentadas no show carioca que depois fez carreira dentro do circuito universitário. Lembro-me de tê-lo assistido em São Carlos/S P, onde estava morando para prestar o vestibular de Arquitetura e Urbanismo.
O disco é composto de nove faixas, sendo 4 regravações – nada covers, obvio! Afinal, o nome dela é, foi e sempre será Gal! As duas destacadas e mais, “Volta”, canção dor de cotovelo de Lupiscínio Rodrigues e uma bossa nova que teve introdução do acordeão de Dominguinhos, Desafinado.
Das inéditas, tem duas do Caetano Maravilhoso Veloso, Da maior importância e Relance; uma do Melodia, Presente cotidiano; uma da dupla, Macalé e Salomão, responsável pelo hit tão hino do show-disco anterior, Vapor Barato; agora, na dançante, Pontos de Luz e, Passarinho, do músico baiano da banda de Caetano Veloso, Tuzé de Abreu.
Mesmo sem coroa ou faixa, Gal Costa era, desde 1968, uma espécie de estrela de grandeza maior da canção underground e chama viva do Topicalismo. Lembro-me do crítico musical, o Tárik de Souza, ter escrito que esse disco, o Índia, indicava uma mudança em sua carreira. Ele tinha razão. Não sei se é um disco tropicalista, apesar dos representantes do grupo estarem, aqui, nas composições. Gilberto Misterioso Gil foi o diretor musical e também, participa da banda.
A Gal era, também, um símbolo de mulher moderna em atitudes, elegância, em beleza e erotismo. O design gráfico desse LP é belo. As fotos das capas incomodaram à Censura. Dois fotógrafos fodões foram responsáveis pelos cliques, Antônio Guerreiro e Mario Luiz Thompson de Carvalho. Edinízio Ribeiro assina pelo design final.
Era muito estranho. Nas lojas de discos, na secção Gal, o Índia estava pra ser vendido com a capa coberta por um saco plástico escuro, semelhante ao utilizado em revistas pornográficas e sabe por que? “Poucas vezes, a sensualidade de uma cantora foi tão [bem] explorada na capa de um álbum. Não ia ter nu, mas, aos poucos, as fotos foram evoluindo, até que ela aceitou ficar quase nua – tirando o bustiê. Aí foi feita a foto da capa, que mostra uma índia mesclando as duas civilizações”. Essa nudez foi castigada pela Censura. Na parede do meu quarto tinha um poster enorme da fotografia da contracapa pois foi publicada na Super Pop, uma revista de cultura jovem do período.
Lu de Laurentiz
é arquiteto, professor universitário na FAUeD-UFU, agitador cultural e uma pessoa agitada por música popular em todas as línguas e sons [desde sempre]
@lu.delaurentiz