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Cilibrinas do Éden

Cilibrinas do Éden é um disco que existe e que não existe.

Um disco que foi gravado, mas não foi lançado. Se hoje o podemos ouvir, em vinil ou em links na rede, é graças às belezas da pirataria.

Esse gesto de contravenção da pirataria, aliás, tem tudo a ver com o que foi as Cilibrinas do Éden, e com as duas artistas que formavam o grupo, em 1973: Rita Lee e Lucinha Turnbull.

As Cilibrinas do Éden se juntaram logo após a saída de Rita dos Mutantes, uma separação movida a tretas que até hoje repercutem.

Rita já havia deixado sua marca como vocalista e performer daquela coisa desbravadora que foram a banda, que apareceu junto da explosão tropicalista de 1967, tocando “Domingo no Parque” com Gilberto Gil no auge da era dos festivais televisivos de música.

Lúcia é considerada a primeira guitarrista do Brasil, vivia desse tal de rock’n’roll em um momento em que isso era muito novo e improvável, sobretudo para uma mulher. Uma rockeira avant la lettre.

Pois Rita saiu dos Mutantes e juntou-se à sua comparsa Turnbull para formar o grupo de sugestivo nome Cilibrinas do Éden, em 1973. As duas chegaram a se apresentar, só com vozes e violões, no festival Phono 70, que reunia os grandes nomes da cena da canção popular do Brasil naquele momento. Abriram o show para os Mutantes.

O caminho de Rita parecia se direcionar para uma nova banda, ao lado da parceira. Mulheres tocando, dividindo vocais, pirando. Veio daí a gravação do disco das Cilibrinas do Éden, que se chamaria Tuti-Fruti.

Tuti-Fruti acabou se tornando o nome da banda que passou a acompanhar Rita Lee em carreira solo a partir de  1974, da qual Lucinha Turnbull participou como guitarrista, na primeira formação.

Isso porque a gravadora achou melhor engavetar o disco e a carreira das Cilibrinas, preferindo focar suas energias e estratégias em um carreira solo para Rita Lee, o que de fato se cumpriu.

Se o disco não chegou a ir pra fábrica, o fato é que as gravações, não sei muito bem como, passaram a circular em fitinhas piratas de aficcionados por raridades. Veio a internet e logo apareceu em links para download. Hoje é só buscar no YouTube, lá está. E esse vinil que aqui roda é uma produção pirata gringa, aquele tipo de pirataria que copia os mínimos detalhes, até a marca da gravadora que não quis lançar o disco.

É a cópia perfeita de algo que não existe, no mundo da realidade oficial. Mas o som está gravado, é real que vira sonho, como canta o primeiro verso cantado pelas vocalistas: “não sei se estou pirando ou se as coisas estão melhorando”.

Verso, aliás, conhecido, pois “Mamãe Natureza”, a faixa de abertura das Cilibrinas, foi aproveitada no primeiro disco de Rita Lee, “Atrás do porto tem uma cidade”, é um clássico da cantora.  Várias outras músicas das cilibrinas depois pintaram em trabalhos posteriores de Rita Lee.

Mesmo conhecendo parte do repertório, vale muito ouvir o disco Cilibrinas do Éden, com seu clima setentista de rock rebeldia debochada, com sua atitude contestadora diante de um país que vivia uma ditadura militar, diante da força vital das presenças de Lúcia e de Rita.

Preparar a agulha e ouvida, porque como cantam as duas em uma das faixas do disco, “vamos voltar ao princípio porque lá é o fim”.

Enzo Banzo

é cancionista, escritor e pesquisador, integrante da banda Porcas Borboletas.

@enzobanzo

Cilibrinas do Eden

Esse álbum foi produzido quando Rita Lee deixou Os Mutantes e formou um conjunto musical com Lúcia Turnbull, que foi o embrião do Tutti Frutti. A única perfomance da dupla foi em 10 de maio no festival de música Phono 73, em São Paulo. O disco contém 12 faixas com 37 minutos de duração. O vinil pirata, lançado em 2010 pelo selo Nosmokerecords, está na segunda tiragem com 500 cópias.

Lançamento1973ArtistasLúcia Turnbull e Rita LeeGravadoraPhilipsGravaçãoEstúdio Eldorado, São Paulo, produção de LiminhaGênerosFolk, Rock e PsicodélicoCompartilhar
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