Circuladô ao vivo foi o disco lançado por Caetano Veloso em 1992 como registro da turnê do disco Circuladô, que aconteceu ao longo do ano de 1991.
De fato, alguma coisa estava fora da ordem naquele ano. Uma nova ordem mundial se anunciava, quando em 7 de fevereiro de 1992, foi assinado o Tratado de Maastrich que daria origem a União Europeia. Ao mesmo tempo, começava a guerra civil iugoslava, que só terminaria no início do novo século, em 2001.
No Brasil, Fernando Collor de Mello, primeiro presidente democraticamente eleito após 21 anos de ditadura militar, via seu governo chegar ao fim depois de um longo processo de impeachment que culminou com a sua renúncia ao cargo, em dezembro de 1992.
Circuladô traz a natureza, o mundo e seus conflitos marcando presença desde a capa do disco, que reproduz a cenografia do show, concebida por Hélio Eichbauer, a partir de imagens de figuras rupestres, passando por diversas canções que formam um painel multifacetado sobre esses temas. Assim, somos convidados a testemunhar “Um índio” que desceria de uma estrela colorida brilhante, após exterminada a última nação indígena, passamos pela mítica praia de “Itapuã”, já cantada em prosa e verso por Dorival Caymmi e Vinícius de Moraes, e onde o cancionista Caetano rememora sua juventude. Chegamos à “Terceira margem do rio”, canção composta por Milton Nascimento e Caetano Veloso, inspirada no conto homônimo de Guimarães Rosa. A natureza apareceria ainda no poema “Circuladô de Fulô” de Haroldo de Campos, musicado por Caetano Veloso e que daria nome ao disco e a turnê.
Circuladô ao vivo traz ainda uma novidade: na introdução da canção de Roberto e Erasmo Carlos “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”, Caetano Veloso fala abertamente, pela primeira vez, sobre a prisão e o exílio que ele e Gilberto Gil sofreram no final dos anos 60. A canção de Roberto e Erasmo foi composta em homenagem a Caetano, quando o músico se encontrava em pleno exílio londrino no início dos anos 70.
Márcia Fráguas
é mestra em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (2021), com a dissertação It’s a long way: poética do exílio na obra fonográfica de Caetano veloso (1969-1972). Bacharela em História pela Universidade de São Paulo (2016). Graduada em Psicologia pela Universidade do Estado de Minas Gerais (2002), com especialização lato-sensu em Cinema pela PUC-MG (2004).
@marciacfraguas