O disco “A Tábua de Esmeralda” foi lançado em 1974, sendo o décimo disco de estúdio de Jorge Ben. O primeiro é de 1963, chamado Samba Esquema Novo.
Jorge Ben é filho de mãe Etíope, senhora Silvia Saint Ben Lima e pai descendente de, ao que parece, austríacos, foi seminarista no Colégio Diocesano São José, dos Irmãos Maristas, no Rio de Janeiro, onde aprendeu latim para se aprofundar na obra de São Thomaz de Aquino.
A partir desse momento, todo esse conhecimento místico e ancestral, foi sempre uma matéria de grande interesse para o jovem Jorge Ben, e que veio a culminar na atmosfera e proposta d’A Tábua de Esmeralda.
Que é um disco que o artista renegou por um longo período, por acreditar em certa medida, ser uma obra, digamos panfletária de uma causa religiosa, ou que motivasse algum tipo de crença e pregação aos ouvintes, e assim então se afastou das músicas por um bom tempo.
Vale ressaltar q nesse período, um ano antes, em 73, Raul Seixas lançava seu primeiro disco, Krig-há, Bandolo, e Tim Maia apresentava seus míticos Volumes Racionais, já em 1974, ambos envoltos também em propostas e estéticas em certa medida místicas.
A capa d’A Tábua de Esmeralda é composta de ilustrações Nicolas Flamel, que viveu entre 1330 e 1418, um escrivão, copista e vendedor de livros francês, conhecidos como alquimista devido aos seus supostos trabalhos de criação da pedra filosofal. Casado com Perenelle Flamel, também uma alquimista, segundo a lenda teriam fabricado a pedra filosofal e o elixir da longa vida e realizado a transmutação de metais em ouro por meio de um livro misterioso.
Inclusive o dito “namorado da viúva”, é Nicolas Flamel, que se casou com sua esposa, após essa enviuvar, sendo uma rica dama da época. Tem uma levada incrível no violão e uma das letras mais irônicas, bem humoradas do Jorge Ben, onde ele brinca que a turma está dizendo que tal namorado não vai dar conta do recado, do fogo da viúva, exaltando os dotes da dita senhora.
Outra canção incrível é o homem da gravata florida, e interessante também saber que esse personagem é Paracelso, que foi considerado um bruxo, por simplesmente ter os conhecimentos curativos das plantas, da dita agricultura celeste, o que para muitos na época era pura feitiçaria, por volta do início dos anos de 1500, e que usava sempre uma túnica colorida, parábola para a gravata.
Uma das músicas mais psicodélicas do Ben, que lida com a beleza das cores de uma gravata, símbolo também da caretice moderna, do trabalhador escriturário. “A gravata já me enforcou”, com diria Tom Zé.
Agora três músicas se destacam como canções q lidam mais diretamente com o tema das civilizações passadas e em seus conhecimentos místicos.
Os alquimistas estão chegando os alquimistas, música q tem uma bateria maravilhosa e que condensa a ideia hermética que envolve o disco, anunciando a chegada daqueles que evitam qualquer relação com pessoas de temperamento sórdido.
Errare humanun est – errar é humano –, canção também extremamente experimental, cheias de efeitos e ecos q simulam um certo tipo de ambiência espacial, q é o tema da canção, onde se pergunta se vieram os deuses de outras galáxias e que não somos os primeiros seres terrestres. Há no final da canção, uma contagem regressiva totalmente genial e etérea e que acaba, interessante perceber, no zero e não no costumeiro um.
E a letra é composta por vários nomes de livros sobre o tema, como Sombras sobre as estrelas, Eram os deuses astronautas, Antes dos tempos conhecidos, Vieram os deuses de outras estrelas e Um planeta de possibilidades impossíveis.
E por fim, sobre a dita Tábua de Esmeralda, vem a canção “Hermes Trismegisto e sua celeste tábua de esmeralda (tratado hermético escrito pelo faraó egípcio Hermes Trismegisto e traduzido por Fulcanelli)”, a própria música explica muito bem, versa sobre os segredos alquímicos, entre outros o da transformação de metais em ouro e as ditas três partes da filosofia universal. Música e letras excepcionalmente geniais!
Entre outros clássicos desse disco estão Zumbi, Brother, Eu vou torcer e Menina mulher da pele preta. Discaço! Valeu ouvintes, um abraço, viva a música.
Robisson Sete
é escritor, poeta e editor da Editora Subsolo. Apaixonado por literatura, poesia, quadrinhos, rock, jazz, funk, soul, blues, samba, cinema e cerveja, e por toda obra de Jorge Ben e pela incrível música popular brasileira. Pai de Benjamin e parceiro de Bruna.
@robissonsete